Terça-feira era um daqueles dias que a agenda de papel estava colorida por marcadores de textos para os diferentes e vários compromissos do dia: participar do programa semanal de rádio, ir para o treino funcional, despachar encomenda pelos Correios para o filho que está estudando na França, fazer um almoço gostoso para a família e, por toda a tarde e noite, me revezar entre aulas presenciais e online.
A primeira parte do plano foi cumprida com sucesso. Mas depois das três da tarde desabou um temporal na cidade com direito a chuva de granizo, corte de energia em boa parte dos bairros (e no meu prédio, elevador e computador) que nem 4G dava conta de rotear tanta internet para as aulas.
Resultado: tudo cancelado, adiado, remarcado, mas não sem estresse. Ainda tenho alunos prestando vestibulares retardatários de 2021 e eles anseiam por tirar dúvidas sobre a redação ou ouvir palavras de confiança depois de tanto empenho e esgotamento físico e mental. Deixá-los assim na mão (embora sem culpa minha) fez doer o meu estômago.
Entre a ira e a resiliência, um turbilhão de ideias me invadiu. O que fazer quando dá tudo errado? Como reagir diante do imprevisto? E por que sofrer pensando que temos que dar conta de tudo? Lembrei de Garrincha, o jogador de futebol ícone da seleção brasileira em 1958 e 1962, que depois da preleção dos técnicos costuma perguntar a eles: “e você combinou tudo isso (as jogadas) com o adversário?”.
É incrível como planejamos nossa vida sem pensar nos “adversários”, que podem ser um tempo chuvoso, mas também uma traição amorosa ou uma rasteira no ambiente de trabalho.
Pode ser uma pandemia de um vírus que se fortalece da imbecilidade humana de gente que não respeita as regras sanitárias ou mesmo um acidente que te tira os movimentos.
Aquela famosa dica de ter plano A e plano B faz todo o sentido. Se tudo der certo, falamos no rádio, fazemos exercícios, cozinhamos e damos aula. E se tudo der errado? Escrevemos artigo para o jornal mais cedo, sem a preocupação do deadline, organizamos a casa, lemos um livro, preparamos mais aulas para quando elas derem certo.
Saber lidar com as adversidades e aproveitar a vida como Garrincha se divertia e dava show nos campos de futebol é agora minha nova meta. E a sua?

  • Ayne Regina Gonçalves Salviano (É jornalista, professora mestre em Comunicação e Semiótica. Empresária no ramo da Educação em Araçatuba e Birigui )

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