Não espere ler aqui um texto motivacional. Esse artigo será uma crítica ao comportamento humano enviesado de tratar com empatia todo e qualquer assunto.
Contrariando o discurso politicamente correto e as madres Terezas de Calcutá de plantão, defenderei a tese que empatia não é igual fermento que se coloca em toda e qualquer tipo de receita culinária para fazê-la render, pelo contrário.
Uma atitude tão nobre, que envolve inteligência cognitiva e emocional, precisa ser usada com moderação e apenas em alguns casos. Do contrário, perde o sentido, fica banalizada e pode provocar uma incoerência, por exemplo, fazer o errado se transformar em certo.
Explico. Vamos analisar a empatia pelo lado psicológico. Trata-se da capacidade de se colocar no lugar de outra pessoa para sentir o que ela sente e, procurar apreender os sentimentos e emoções que a conduzem. Então, de forma objetiva e racional, compreender os sentimentos e emoções de terceiros para um melhor agir.
Bonito isso, não é mesmo? Em alguns casos. Um exemplo: o grupo de policiais militares que se mobilizou para socorrer uma mãe com quatro filhos pequenos passando fome depois que um deles telefonou para o 190 é uma forma de empatia admirável.
Era visível a emoção do policial na entrevista para a televisão quando declarou que, em mais de 20 anos na corporação, nunca tinha visto uma situação tão alarmante e, por isso mesmo, eles se mobilizaram para conseguir as cestas básicas que vão garantir a alimentação da família por algumas semanas.
Ao mesmo tempo, um grupo de policiais não pode tratar com empatia o sequestrador que ameaça a vítima com um revólver diante de testemunhas e câmeras de TV. Embora esse criminoso tenha muita chance de ser fruto de uma sociedade desigual, não é possível tratá-lo da mesma forma como se socorreu a mãe e os filhos famintos. Não há como ser empático com quem fere as leis.
Parece óbvio que aqueles que não respeitam as regras sociais e as normas devem receber justiça e não empatia. Empatia é para os bons.
Um médico deve ser empático com seus pacientes para entender o que os levou a precisar de tratamento. Um professor precisa ser empático com seus alunos para compreender os motivos da falta de aprendizagem. Um familiar tem que se colocar no lugar do outro para saber o que ele estava pensando quando magoou ou feriu os que mais o amavam.
Mas o médico não pode ser empático com quem o procura só para fraudar atestados ou em busca de remédios controlados sem necessidade. O professor não tem que ser empático com o estudante que quer nota a qualquer custo, mesmo de forma antiética. E a família não precisa ser empática com os egoístas, por exemplo.
Sim, existe empatia tóxica. É aquela usada indiscriminadamente que demonstra a imaturidade de uma sociedade que acredita que perdoar tudo é sinal de respeito e evolução. Não é.

  • Ayne Regina Gonçalves da Silva (É jalesense. Jornalista com mestrado em Comunicação e Semiótica. Professora especializada em Metodologia Didática. Franqueada da Damásio Educacional em Araçatuba e Birigui)

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