Quantas vezes você já se viu perguntando: “O que está errado com este mundo? Por que tanta maldade, violência e injustiça? Por que não consigo compreender o meu próprio jeito de agir”? Estas perguntas não são feitas apenas por causa da nossa indignação frente aos descalabros na sociedade ou no comportamento humano, mas também é fruto de um sentimento de inadequação cósmico, ou seja, aquele sentimento que nos leva a pensar que as coisas não eram para ser assim… Afinal, por que as coisas são como são?

Ao falar sobre os fundamentos que constroem uma cosmovisão tenho por certo que a parte mais espinhosa da tarefa explicativa seja considerar a realidade do pecado e suas consequências sobre toda a esfera da criação. Contrária à ideia maniqueísta de que o bem e o mal são co-eternos, a teologia cristã-reformada afirma que Deus criou todas as coisas perfeitas para o seu louvor, mas a escolha pela desobediência, autonomia e independência do primeiro casal no Jardim do Éden produziu um efeito ondulatório de tragédias, desgraças, dor e sofrimento com extensão cósmica, e não apenas humana. Assim, qualquer pessoa consegue olhar para este mundo e perceber que há algo errado. O relacionamento do homem com Deus, com o próximo, com a natureza e consigo mesmo – antes marcado pela perfeição – com a realidade da queda torna-se estranho e complicado: o homem foge de Deus, mente e agride o próximo e a natureza, além de desenvolver complexos em relação a si mesmo.

Neste sentido, por queda estamos nos referindo ao pecado original do primeiro casal que os fez cair do estado de perfeição em que foram criados por Deus, cujas consequências catastróficas se fazem sentir em nossa humanidade. Conforme Albert Wolters afirma: “Em todos os lugares para os quais nos voltamos, as boas possibilidades da criação de Deus são mal usadas, estão distorcidas e são exploradas para fins pecaminosos.” Os efeitos difundidos da queda se veem nas artes, nos sistemas políticos, no relacionamento familiar ou espiritual, na ciência e em toda a construção cultural humana. Usa-se a distinção de estrutura e direção para rotular o querer de Deus estabelecido na criação em contraste ao direcionamento da construção humana (que muitas vezes ainda é boa, mesmo depois da queda). A ideia estabelecida nesta distinção é apresentar a estrutura como o modelo estabelecido pelo Criador; a direção é o sentido que o ser humano dá a qualquer parte da criação. Música, sistema político, casamento, arte ou qualquer outra coisa da criação podem ser usados para a glória de Deus ou para subverter, distorcer a boa ordem estabelecida pelo Senhor. Esse é o grande absurdo do pecado: usar as boas coisas criadas por Deus para usá-las contra o ele próprio.

Convém sempre afirmar que a queda do primeiro casal não pegou Deus de surpresa como se ele não tivesse controle sobre a criação. Isso será mais bem apresentado no próximo artigo onde falarei sobre o terceiro fundamento na construção de uma cosmovisão.

Antes disso, pense em duas coisas importantes: a realidade do pecado não pode ser vencida pela nossa própria força ou capacidade. É preciso um poder muito maior que o nosso para lidar com este terrível mal; igualmente, mesmo com a realidade do pecado que marca nossa vida, somos amados por Deus. Esse amor se manifesta no chamado que Cristo faz para termos perdão e graça a fim de rompermos com o pecado e vivermos para a sua glória.

Pense nisso e até o próximo mês.

Rev. Onildo de Moraes Rezende (Pastor da Igreja Presbiteriana de Jales, Bacharel em Teologia, Licenciado em Pedagogia, Pós-Graduado em Docência Universitária, Mestre em Aconselhamento)

Comments are closed.