Em entrevista exclusiva ao JORNAL DE JALES, o gestor HENRIQUE PRATA, presidente da maior rede de atendimento oncológico da América Latina, o Hospital de Amor, relata perseguição à unidade de Jales por parte de gestões anteriores do Departamento Regional de Saúde – DRS de São José do Rio Preto, e descaso de governos estaduais e federais, que deixaram a instituição sem credenciamento com o SUS por 8 anos. Todas as informações e detalhes a respeito da sua opinião sobre a engrenagem política por trás da saúde pública no Brasil estão em seu livro recém-lançado “O Parque dos Lobos”. Com ênfase e convicção do seu papel em busca de um atendimento de qualidade acessível e gratuito, Henrique Prata afirma que é contra credenciar convênios particulares ao HA, para manter a igualdade no atendimento de todos os pacientes.
Nas linhas abaixo, o presidente também descreve como ações voluntárias desempenhadas pela Associação dos Voluntários no Combate ao Câncer – AVCC Jales contribuem para manter o funcionamento da unidade em apoio não só financeiro, como também em suporte emocional ao paciente: “é a AVCC mais dinâmica e competente de
todas”.
Ainda segundo o entrevistado, o Hospital, que é orgulho para a população jalesense e amparo para pacientes oncológicos da região, precisa de mais apoio político após anos lutando para se manter: “se não fossem as perseguições que sofremos sistematicamente, essa unidade poderia ser o dobro do que é hoje”.
Logo no começo de 2024, a Unidade de Jales passou por mudança na gerência administrativa, ficando responsável pelo cargo desde o começo de janeiro, a administradora pós graduada em auditoria em saúde, Jessica Donini Monzani Ávila, com manutenção do diretor clínico, Rafael Alves Perdomo, e da gerente de enfermagem, Talita Cáceres Minella Rossafa. (G.R.)

J.J. – Quais foram as principais dificuldades para a implantação da unidade de Jales do Hospital de Amor?
Henrique Prata –
As pessoas não imaginam tudo que há por trás da saúde no Brasil. Jales é uma primeira experiência de descentralização do Hospital de Amor de Barretos, porém as instalações não previam a demanda que está atendendo. Só no estado de São Paulo são mais de 55 mil pacientes, e a unidade ajudou a desafogar Barretos. Vinham mais de 200 veículos por dia da região de São José do Rio Preto até Santa Fé do Sul, pacientes de diversas cidades que iam para Barretos. No governo do José Serra conseguimos implantar Jales para diluir um pouco a demanda de atendimentos de Barretos. Tivemos muita dificuldade para manter a unidade de Jales nesses 12 anos, ficando 8 anos sem credenciamento ao SUS. As contas foram pagas por captação de verbas, a omissão do Estado e da União foi grande. Temos uma esperança agora de mudança com o novo governo de São Paulo, para modificações que possam ajudar a continuarmos o trabalho 100% gratuito de atendimento de excelência.

J.J. – No livro “O Parque dos Lobos” o senhor menciona má fé por parte de autoridades, poderia nos explicar?
Henrique Prata –
Nos cinco últimos anos, tivemos ainda mais dificuldade porque nós tínhamos um aditivo do governo do estado de R$ 1 milhão, usávamos o dinheiro e a DRS Rio Preto nos fazia devolver ao estado a verba. Nunca tive uma perseguição tão grande, o pouco que o Estado colocava dos R$ 7 milhões que Jales necessita por mês, tínhamos que devolver. Em Barretos eu tenho a mesma verba, a mesma rúbrica e nunca tive que fazer devolução. Então Jales só existe pela vontade de Deus, porque não era para existir. No meu livro eu detalho como nada beneficiou Jales em termos políticos desde a sua fundação há 12 anos. Ano a ano você vai ao Ministério da Saúde e encontra um poço de gelo, vem para a Secretaria de Saúde de São Paulo, as mesmas condutas. Não existe o paciente, existe uma regra, leis e portarias de 1980 que não querem mudar.

J.J. – As dificuldades financeiras não chegam ao paciente, pois a filosofia de amor e respeito é nítida, qual é o segredo?
Henrique Prata –
O segredo é tratar por amor, em uma aliança primeiro com Deus. As pessoas sentem que trabalham em uma instituição com honestidade e verdade, tentamos passar isso a cada colaborador que chega aqui. Ele pode até ter problemas, mas quando chega, só dedica o que tem de melhor. Todos os pacientes são tratados igualmente e isso encanta, fazendo cada um dar o seu melhor.

J.J. – O Hospital de Amor não trabalha com convênios. Porque vocês ainda resistem em implementar isso?
Henrique Prata –
Eu sou contra o particular (convênio) e o público estarem dentro da mesma instituição. O Hospital de Amor é 100% gratuito, e na minha visão tem que ser assim, separado. Essa desigualdade no tratamento dentro dos hospitais é sustentada pelo dinheiro. A nossa instituição não distingue quem tem dinheiro; ninguém nem sabe a distinção de tudo isso, nem governador, nem ministro, nem presidente…mas o paciente sabe a diferença, ele sente.

J.J. – Como o sr. vê o engajamento da AVCC Jales e o voluntariado nas conquistas da unidade local?
Henrique Prata –
Mais uma vez eu acredito na providência de Deus, nossos colaboradores e voluntários são enviados por Deus. Existem muitas AVCCs, não somente onde existem unidades do hospital. Igual a de Jales não existe nenhuma no Brasil, de tamanha competência e inteligência, impregnada com valores de responsabilidade pra ajudar os pacientes e o hospital. Faz uma campanha atrás da outra, é a AVCC mais dinâmica que o HA tem.

J.J. – Com relação à ampliação dos leitos através da obra de realocação de outros setores, como a cozinha. Ela continua nos planos?
Henrique Prata –
Faz cinco anos que estamos tentando ampliar – não sobra nada para Jales, esses governos estão precisando ir a Jales, enxergar Jales, para ver a carência e tudo que é feito com o que temos. Jales precisaria de um Vadão Gomes de novo, que tinha vontade política e foi peça importante na implantação do Hospital de Amor em Jales na época. Se tivéssemos mais apoio político essa obra poderia andar e não teríamos esses entraves segurando a unidade de Jales que pode crescer. Se houvesse um apoio genuíno o hospital seria o dobro do que é hoje.

J.J. – O que o senhor vê como futuro para a unidade de Jales do Hospital?
Henrique Prata –
Há uma promessa de mudança da tabela SUS paulista para março, com um aumento dos repasses que estão congelados há 22 anos. Estamos aguardando e confiando que a nova administração da DRS de Rio Preto escreva uma nova história com a unidade de Jales a partir de agora, trabalhando em parceria porque é somente isso que precisamos, apoio justo.

O diretor clínico do Hospital de Amor – Unidade Jales, o médico Rafael Perdomo, o presidente Henrique Prata, a nova gerente administrativa Jéssica Donini e a gerente de enfermagem, Talita Rossafa
Henrique Prata, presidente do Hospital de Amor, ao lado da nova gerente administrativa de Jales, Jéssica Donini

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