Minha cidade natal cresceu! Agora tem tudo! Não perde nada pra nenhuma metrópole. Nosso setor de serviços é um dos melhores – e mais eficientes – do planeta. Depois dos malabaristas das esquinas e dos pedintes nas ruas, por onde se ande agora se encontra um cobrador. As motos correm velozes pelas ruas, ziguezagueando e tirando fina dos pedestres, dos carros e das bicicletas. Motociclistas encapuzados (ops, encapacetados) desafiam as leis da física dia e noite com caixas grudadas nas costas, elmos extras para seus passageiros nos cotovelos e bolsas à tiracolo e à tirabarriga repletas de boletos a receber.
Nada, porém, se compara ao serviço de fiscalização de estacionamento. Para cada carro procurando vaga existe uma mocinha pronta para aplicar uma multa. A indústria automobilística desenvolveu tecnologia especial para minha cidade. Acionar a seta para estacionar desperta uma fiscal até então adormecida no chassi do carro. Puxar o freio de mão é a segunda coisa a fazer depois de parar. A primeira é abrir a carteira para pagar o famigerado boleto. É o setor de serviços fazendo história no interior paulista.
Motocicletas com motoboys, mototaxistas, moto-deliveries e motobarulhentos compõem a fauna. A cidade de Ho Chi Minh, no Vietnã, pode ter ruas mais apinhadas destas máquinas ensurdecedoras, além de ter as fotos mais famosas. Mas perde para minha outrora cidadezinha, hoje uma cidadezona, em termos de caos organizado. Minha megalópole (ainda) não cobra estacionamento dos ciclomotores. Resolveu esperar os estudiosos desenvolverem tecnologia parecida com a dos automóveis. Tão logo se consiga acoplar a cobradora nos bagageiros, essa mordomia terá fim.
Como bom cidadão, acreditei ter conseguido ficar tão cosmopolita quanto meu torrão natal, mas caí na real depois de ler (e tentar entender) o artigo publicado no Estadão dia 12 de setembro de 2023 por Jayanne Rodrigues tratando da improdutividade das reuniões. No meio de tanto ão fiquei boladão com as palavras citadas: só entendi marketing e briefing. De resto fiquei perdidão nos stakeholders, fintech, daily scrum, e um tal de lean coffe.
Este último termo deve ter alguma coisa a ver com café, mas não consegui procurar no dicionário porque a mocinha tinha acabado de brotar de baixo do meu carro com a maquininha de multa na mão antes de eu terminar de colocar o carro no meio-fio.

Jayanne Rodrigues, repórter do Estadão

Dr. Manoel Paz Landim (Cardiologista, Professor da FAMERP de São José do Rio Preto)

Comments are closed.