Sou tarado por discursos. Particularmente os inflamados, cheios de gestos e inflexões. Até tolero os apenas lidos, mas um orador empolgado sacode minhas entranhas. Sonho com Paulo Brossard e Pedro Simon na tribuna fazendo o plenário emudecer e os inimigos tremerem. Ah, o poder da palavra. E sim! Tenho inveja deles. Nada da tal inveja branca. Quero mesmo é ser superior, entrar pra história como eles entraram e estrelar livros como DISCURSOS QUE MUDARAM O MUNDO ao lado de Mao Tse, Martin Luther King e Ghandi. Afinal, se é pra pecar, que seja grande o pecado.
Qual é a graça, por exemplo, de uma formatura sem um punhado de bons discursos? Se for feito sem lugares comuns, como as recordações do primeiro ano e os desafios da nova profissão, melhor ainda. Mas um bom falatório ajuda aguentar a mais chata das cerimônias.
Um velório chique também precisa ter um bom discurso. O defunto desce até mais feliz pra sua cova se for encomendado por um puxa-saco bom falante. A viúva esquece o choro, os velhinhos param as piadas e o vigário fica sem graça por caber a ele só os benzimentos de ocasião.
Casamento com um padrinho ao microfone é capaz de azeitar a lua de mel. Os noivos recobram a força e chegam com tudo ao quarto de hotel depois de uma inspiração bem transmitida. Alguns se empolgam tanto e são capazes de consumar o ato ali mesmo se acharem uma salinha bem trancada.
A ocasião, as palavras e o inesperado são elementos fundamentais para um bom discurso. Não tendo microfone é melhor ainda. Juntei esses três quesitos e me dispus a surpreender no meu próprio velório. Não sabendo se serei digno de contar com um palestrante de renome, vou eu mesmo fazer a última saudação para minha pessoa.
Duvido alguém reclamar.
Pretendo escolher as palavras e burilar o estilo ano a ano, afinal, não estou lá com tanta pressa de terminar. Espero ter bastante tempo para trabalhar nele, incluir novas passagens e contratar um bom diretor para me ajudar. Farei tudo filmado, com edição, luz, cortes e música de fundo. Tudo profissional para ser exibido antes e durante a cremação. Enquanto as chamas sobem, o vídeo termina ao som de My Way com Frank Sinatra. Digno de Oscar.
Prometo provocar choro forte até nos mais durões.
Sinta-se convidado desde já, mas sem muita pressa. Venha ligeiro, mas não precisa correr.

Dr. Manoel Paz Landim
(Cardiologista, Professor da FAMERP de São José do Rio Preto)

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